Escrevo no blog desde o dia de nascimento do mesmo, mas acho que nunca escrevi nada tão pessoal quanto vou escrever agora. Se você me conhece ou leu ao meu perfil, sabe que sou estudante de doutorado. É, é isso é o que eu faço para viver. Mas o que um estudante de doutorado faz, afinal de contas? A resposta para esta pergunta é sempre a mesma, não importando o doutorando em questão: Mais do que se imagina e menos do que deveria. Isso por que suas responsabilidades são muitas, mas jamais se esgotam.
Primeiramente, para chegar até aqui, eu fiz um curso de graduação. No início deste curso (enfermagem, aliás), eu me apaixonei por uma área específica do cuidado: a saúde mental. Comecei a querer saber mais sobre o tal negócio, e então procurei a minha atual orientadora, (na época ela era apenas professora de uma das disciplinas que eu fazia) e perguntei pra ela o que eu poderia fazer, enquanto aluna de graduação, na área pela qual me interessei. A minha idéia inicial era fazer alguma bolsa trabalho, ou algo do tipo, atender uns pacientes de vez em quando e ver se era aquilo mesmo que eu queria, mas ela me trouxe uma resposta muito mais desafiadora do que isso. Me sugeriu entrar pro mundo da pesquisa.
Pesquisa? O que é isso? Como faz? Pra que serve? Com tantas perguntas e tão pouca idade como eu tinha na época (17 anos), fiz então o que de melhor eu sei fazer: chorei. Me desesperei. Me descabelei. Achei que não conseguiria. Mas daí tudo isso passou, ela me deu um lenço e o caminho das pedras pra fazer um projeto, e acabei gostando da coisa. 7 anos depois, continuo pesquisando com a mesma orientadora.
A minha experiência de pesquisa na faculdade, conhecida como iniciação científica, me abriu as portas pra várias coisas. Descobri que adoro escrever. Descobri que com a pesquisa a gente pode mudar as práticas de saúde do país... Quem sabe do mundo? Se for realmente bom e tiver um pouquinho de sorte, pode virar referência para os outros. Me apaixonei pela pesquisa e, uma vez terminada a graduação, o próximo passo para continuar neste rumo seria a Pós Graduação.
Existem dois tipos de Pós Graduação. Uma delas é para que você se especialize em determinado assunto e seja um profissional qualificado nesta área. Você tem interesse em prestar um serviço, e quer fazê-lo de forma especializada. Então, você faz a Pós Graduação Lato Sensu, mais conhecida como especialização. Você vai ter um título de especialista naquela área, e exercerá a sua atividade. Como enfermeira, poderia me especializar em diversas coisas. Poderia fazer obstetrícia e sair fazendo partos por aí. Poderia fazer pediatria e sair cuidando de
Uma vez decidido que se quer ser pesquisador, você tem duas opções. Existem universidades particulares que possuem esses cursos, e então você normalmente paga por eles. Muita gente trabalha e paga por seu mestrado e doutorado em instituições muito boas. Eu fiz graduação em uma universidade pública, onde não se paga para fazer o mestrado e o doutorado. Eu optei por continuar na universidade pública.
Mesmo na particular, muitas delas oferecem bolsas, e muita gente acaba conseguindo uma e não pagando pelo curso. Uma vez que foi decido onde fazer, existem mais algumas possibilidades. Na universidade onde faço, a USP, prestei um processo seletivo um pouco longo (prova específica, prova de português, entrevista, análise de projeto, proficiência em inglês), e ingressei no curso. Eu queria me dedicar exclusivamente ao mestrado (e depois ao doutorado), então eu me enquadrava para a categoria aluno bolsista, onde você, além de não pagar pelo curso, ganha uma bolsa para fazê-lo. Adoro estudar, e ganhar para isso me pareceu uma excelente idéia. O bom é que você pode se dedicar mais aos estudos do que as pessoas que trabalham e o fazem também. O ruim é que se ganha menos do que o mercado geralmente oferece (minhas amigas ganham de 2 a 3 vezes o que eu ganho). Uma coisa boa é que ao invés de se ter um chefe, você tem um orientador. É uma relação de cobrança também, mas muito mais tranqüila, e muito mais proveitosa por que, afinal de contas, você está investindo em você, na sua formação, então, só tem a ganhar. Seus horários são flexíveis e você tem certa autonomia para escrever e trabalhar em seus projetos, tendo sempre os toques importantes do seu orientador para guiar e facilitar o trabalho.
Mas a vida de doutorando não é só alegria. Nós temos um chefe bravo, meio malvado às vezes, que se chama CAPES. A CAPES é a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior. Ela quem dá as notas para os programas de pós graduação, ela quem decide onde você deve ou não publicar, o que você pode ou não fazer, e, muitas vezes, essas regrinhas são difíceis de serem seguidas.
Uma das coisas que a CAPES exige é publicação. Quando você desenvolve uma pesquisa, seja como eu, na área da saúde, ou seja na engenharia, na tecnologia da administração, na administração ou qualquer outra área, você está investigando problemas que as pessoas enfrentam na sua área e tentando tirar conclusões acerca disso tudo. Isso origina resultados, que podem mudar a maneira como as pessoas fazem as coisas. Mas para mudar a maneira como as pessoas fazem as coisas, elas precisam ter acesso a esses resultados. Um jeito de dar acesso ao que você produz enquanto pesquisador é publicando esses resultados em revistas científicas ou especializadas na área que você estuda. Eu posso publicar em revistas de saúde mental, de enfermagem, de álcool e drogas. O problema é que, muitas vezes, o que você escreve não é um assunto que interessa muito. Às vezes as revistas bem avaliadas pela CAPES querem publicar pesquisas diferentes das suas. Então você tem um problema.
Você tem que achar uma revista que se interesse pelo assunto sobre o qual escreve, mas precisa também que os seus resultados e o seu artigo sejam do interesse da revista. Eles podem estar morrendo de vontade de publicar sobre a sua área, mas não achar o seu artigo bom o suficiente.
Eu já cheguei a mandar artigo pra revista e ter o artigo negado na mesma hora. Nesse caso, você fica triste, mas já tenta levá-lo para outra. Mas já me aconteceu de uma revista negar o meu artigo um ano e meio depois do dia em que o submeti. Ou seja, o artigo fica parado um tempão, só pra você ouvir, no final, que ele não é bom.
Então o problema que você enfrenta na pós graduação stricto sensu é esse. Você tem que publicar, mas publicar não é NADA fácil.
Muita gente me diz: mas você fica longe da prática! Você não sabe mais como é ser enfermeira quando faz doutorado! Isso não é completamente verdade. Eu tenho a oportunidade de participar de estágios dos alunos de graduação em instituições de cuidado à saúde, ou seja, eu faço o que o enfermeiro faz, e mostro para os alunos como se faz. Você tem contato com os pacientes e com os alunos, e adquire experiência profissional tão valiosa quanto dos seus colegas que trabalham.
Então, o recado é o seguinte: Se você quer ajudar as pessoas a trabalhar melhor na sua área, não importa no que você seja formado, quer investigar problemas de maneira científica, quer ser um cientista, um pesquisador, entre para a pós graduação stricto sensu. Não vai ser fácil, mas é muito gratificante!
3 comentários:
Sou enfermeiro também e tô terminando pós-graduação lato sensu em urgência e emergência, agora tô correndo atrás de um mestrado em imunologia. =)
Doutorado é legal também, muito legal, fico muito feliz por você, de verdade!
Hein, quando você vai escrever um texto sobre você ser a "garota da informática" na faculdade? Pensa que eu já esqueci daquele dia lá no grupo de pesquisa, é? rsrsrs
beijos e parabéns!! :D
haha, garota da informática é bom... Os professores vivem me chamando no corredor pra resolver paus dos pcs... o melhor é que, no geral, são coisas beeem simples de resolver, rsrsrs
Sim, sempre é algo simples mesmo...
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